segunda-feira, 21 de julho de 2014

Aos Amigos de Ontem, Hoje e Amanhã

Amizade é aquele momento onde as duas almas se encontram e parece que pensam juntas, e você sabe, mesmo, sem nenhuma palavra que pode contar com o outro. Amizade é quando se pode comunicar apenas com os olhos, quando mesmo sem nenhuma palavra se sabe exatamente o que o outro pensa. Amizade é um sentimento, um de paz e alegria.

Amizade é briga e maus entendidos, só que todos resolvidos e na maioria das vezes com sorrisos. Amizade é piada e zoação, é rir juntos um do outro.  Amizade é ser forasteiro, viajar na vida do outro, nem sempre sabendo onde pisa e neste caso amizade é descoberta. Amizade é um momento, sim aquele, que só quem já teve sabe sendo impossível a descrição.

Amigos se vão, mas, neste caso em um sentido diferente, pois, as amizades são eternas. Mesmo longe, mesmo sem poder se comunicar você sabe que lá, seja onde for, há alguém que o ama e é o seu amigo. Neste caso amizade é o contrário de solidão, pois esta é ficar só entre muitos, amizade porém, é estar entre muitos, mesmo quando só. O tempo passa e os amigos se vão, e ficando cada vez mais distantes, talvez longe, mais nunca o demais para se esquecer.

E em algum dia outras amizades vão se formando, outras pessoas se aproximam e começam a galgar o caminho confuso do nosso coração. Pessoas que antes não tinham significado passam a ser adjetivos, e logo passam a ser sentimentos. Amizade é romance, o mais puro de todos.

 Se você me perguntar o que é amizade eu responderei: É um momento!

Aos amigos de ontem, aos amigos de hoje, aos amigos de amanhã...

domingo, 13 de julho de 2014

O que é o Redação Fanzine - What is Redação Fanzine

Os fanzines dos anos 80 significaram uma enorme autonomia na produção de textos independentes. Muitas vezes seus autores não tinham financiamento externo e tinham que arcar com todas as despesas de sua publicação. Muitas vezes os autores faziam todo o trabalho de edição, impressão e distribuição dos fanzines. Os modernos blogs apresentam características iguais às dos fanzines. Este blog tem por objetivo ser autônomo, trás os comentários e visões de seu autor (um brasileiro que esta em grande empenho de entender sua própria sociedade). Falaremos muito sobre cultura brasileira e para facilitar a leitura de pessoas de outros países o nosso fanzine virtual terá os textos traduzidos de forma automática em inglês. Prezados leitores sinalizem qualquer dificuldade de compreensão. Desde já grato pela visita em meu blog, sejam bem vindos ao Redação Fanzine.

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What is Redação Fanzine:

Fanzines of the 80s have meant a tremendous autonomy to produce independent texts. Often times the authors did not have external funding and they had to bear all the expenses of publication. Often times the authors did all the work of editing, printing and distribution of fanzines. Modern blogs show similar characteristics to those fanzines. This blog aims to be autonomous contains the comments and views of its author (a Brazilian who makes a great effort to understand their own society). We'll talk a lot about Brazilian culture and to facilitate reading of people from other countries the virtual fanzine will be automatically translated into English. Dear readers to flag any difficulty in understanding. Already grateful for your visit on my blog, welcome to Redação Fanzine.



quinta-feira, 10 de julho de 2014

Salada EUA dos Anos 50: Hollywood e Outras Drogas


Era uma época de mudanças. Presidentes sendo acusados de traição ao povo, valores familiares sendo perdidos, a população cada vez mais pressionada e vigiada - este era o senário vivido pela população dos Estados Unidos da América a partir dos anos 50. O que seria o anestésico para as angustias? Quais os movimentos que influenciariam os nossos dias?

Para entendermos o que se passava devemos lembrar que o mundo havia de dividido em dois blocos o comunista comandado pela União Soviética e o capitalista comandado pelo EUA. O presidente dos EUA, Rooseval, foi acusado de ter vendido para a Europa oriental aos soviéticos. Ele foi chamado de pró-comunista. Há quem diga que ele foi um brilhante estadista e só desejava evitar que com a derrota do Eixo houvesse uma guerra entre os então aliados. Rooseval morreu em Abril de 1945, ano em que acabava a segunda guerra mundial. Quem assumiu o poder foi o vice-presidente Harry Truman, "um político provinciano [...] voraz".²

Os negócios relacionados a guerra era fonte de emprego para milhares de americanos, Truman fez alianças com empresários enriquecidos com a guerra. Diretores de empresas armamentistas ocupavam altos cargos nos departamentos de defesa dos Estados Unidos. Com o fim da guerra surgiu a necessidade de justificar a existência dos serviços de informação como CIA e FBI. A nação deveria estar sempre mobilizada para a guerra caso contrário o capitalismo norte - americano sofreria crises, milhares de pessoas desempregadas e donos de empresas armamentistas arruinados.³ De onde veria a solução para eliminar o perigo à economia dos Estados Unidos?

"Era necessário comover a opinião pública, criar a histeria anticomunista, apavorar a população [...] Em março de 1947, o presidente Truman enviou ao congresso uma mensagem na qual preconizava que os Estados Unidos, em substituição às potências europeias, interviriam nos países onde seus interesses estivessem ameaçados pela doutrina do socialismo." Criou-se o que mais tarde foi chamado de "Doutrina de Truman" e deu inicio à guerra fria, duas nações, EUA e União Soviética, que lutariam ideologicamente.⁴

O mundo todo sofreria as consequências desta luta ideológica, inclusive americanos (alguns sendo acusados de simpatizarem ao comunismo chegaram a ser mortos). Quando pensamos por esta ótica vemos que a guerra fria manteve os alicerces do capitalismo e podemos ao menos ver que o interesse maior era a manutenção dos empresários. De ponta a ponta americanos sofreram com o medo de uma guerra nuclear, Charles Chaplin foi proibido de trabalhar, o FBI partiu para a invasão de privacidade dos cidadão, interrogatórios policiais eram realizados constantemente e em caso de suspeitas eles eram longos e cruéis. A população dos EUA viviam com medo e desconfiada, foi lhes roubada a liberdade de pensamento e foi lhes doutrinada por meio da mídia o estilo americano de vida.⁵

Os baques da vida privada norte - americana pode ser sentida com o declínio de uma de suas mais tradicionais instituições: a família nuclear.A televisão, Hollywood e os anúncios alimentavam nas pessoas os anseios do "American Way of Life". Estilo de vida da classe média branca americana que passou a ser objeto de inveja no mundo todo.⁶ O estilo de vida melhor e diversão foram os anestésicos para que muitas pessoas esquecessem as pressões causadas pela guerra fria.

Hollywood funcionou como meio de doutrinação da população por meio de mensagens transmitidas em seus filmes, exemplo: Depois da década de 1950 começaram a surgir nos filmes "hollywoodianos" enredos que em um acidentes ou fatalidades o pai ou mãe da família morria e seu cônjuge passa a criar os filhos sozinho e eram bem sucedido neste novo estilo de vida. O impressionante é que este estilo de filme aparece justamente na época em que os índices de divorcio aumentaram, ou seja eles passavam a mensagem que mesmo sem um dos pais era possível criar filhos e ser feliz mesmo sem o cônjuge. Não podemos, também, desconsiderar os movimentos como Hippies, Gays, Feministas e Rock and Roll cujo o slogan favorito era "make love, not war". Apesar de nenhum deles serem declaradamente comunistas eles desafiavam os padrões tradicionais e levavam à reflexão.

Referências:


1- CÁCERES, Florival. História do Brasil, 1. Ed. - São Paulo, Moderna, 1993, p. 290.


2- Idem, ibidem, p. 290.
3- Idem, ibidem, p. 290.

4- Idem, ibidem, p. 290 e 291.

5- Idem, ibidem, p. 291.

6- LINS, Regina Navarro. O Livro do Amor vl 2, 3. ed -Rio de Janeiro, Best Seller, 2013, p. 235.

PS: Texto publicado anteriormente em http://encarefatos.blogspot.com.br/2013/12/ideais-norte-americanos-da-segunda.html sob o título "Ideais norte americanos da secunda metade do século xx"
Versão editada especialmente para o Redação Fanzine.

Sexo, este estranho – parte II



Homens saem de suas casas e caminham rumo ao cabaré para ver aquela carioca de “silhouette” um pouco arredondada, mulheres dão a luz à seus filhos em casa, pais negociam o casamentos de suas filhas, revistas pornográficas composta por desenhos, camisolas que na região genital tinham um furo e sobre ele bordado a frase: “Deus abençoe esta casa”. Regras de etiquetas que ensinam as mulheres a desmaiar e os homens a não chorar. Estas são apenas algumas das características da vida intima das famílias brasileiras do Rio de Janeiro dos séculos XVIII e XIX. Pode parecer que isso foi a muitos anos atras, mas, do ponto de vista histórico e cultural estes dois séculos tem uma poderosa influencia sobre nós.


Os vestígios dessa história são vistos ainda hoje quando por exemplo uma garota fica “mal falada” em cidades de interiores por ser promiscua, ou então ao ligar o termo “promiscuidade” a algo ruim, ou quem sabe na nossa dificuldade de lidar com o sexo extra conjugal feminino e a facilidade de aceitar o masculino, ou então em classificar como sexo desnatural o anal e oral, pior ainda é saber números que mostram que no Brasil um homossexual vai ser assassinado a cada 26 horas. Para as mulheres a coisa é um pouco mais complexa, são consideradas objetos de posse dos homens sendo a elas ensinada a submissão e total lealdade, assim como era no caso da mulheres do século 18. O que é isso? Será que somos mesmo um povo liberal e sexual como nos é pregado?


Como povo, os brasileiros não são sexualmente liberais. Isso vai contra o senso comum de que somos sexuais, de que os “gringos” vem para cá por que é mais fácil “pegar” mulher e etc. Na verdade essa ideia é uma ideologia criada no imaginário popular. Temos uma enorme dificuldade de lidar com conflitos sexuais pois em nossa história sexo sempre foi considerado como coisa ruim e pecaminosa. Talvez seja por isso que hoje as pessoas ficam chocadas com os novos rumos que a sexualidade vem tomando.



Mudanças no comportamento sexual



As novas formas do capitalismo, descobertas médicas e as revindicações de direitos das minorias tem quebrado tabus que duraram séculos. Foi Hollywood com seus romances que fixou na mente da população de forma definitiva o amor romântico, onde um ser completa e satisfaz totalmente o outro. Foi também pelos filmes que se começou a naturalizar os divórcios (primeiro por meio de tragédias que matavam um dos personagens seja pai ou mãe e dai o filme mostrava como era possível viver sem um cônjuge e depois de forma mais evidente com os desafios do casamento). Ao som de Elvis Presley o rebolado começou a fazer parte da dança e o rock roll dominou gerações. Todas essas mudanças culturais apontavam para uma mudança na sexualidade, mas, foi sem dúvida a criação da pílula o maior marco da revolução do sexo.


A pílula não apenas quebrou o tabu de que sexo deveria ser feito apenas para a reprodução como também aproximou o sexo heterossexual do homossexual, pois, ambos estavam em busca do prazer. Para as garotas e mulheres a pílula significou o fim do controle machista sobre a reprodução, mostrando que a mulher pode ter autonomia sobre seu corpo. Por outro lado permaneceu ainda as ideias do amor romântico hollywoodiano de exclusividade, de sexo por amor e não por prazer, de um viver pelo outro, de que só se pode amar uma pessoa e a de que quem não casa não é feliz.



Com a expansão do capital norte americano nós alimentamos toda essa cultura e criamos e recriamos nosso imaginário sexual. Porém desde o fim dos anos 90 e agora no início do século 20 há novos ares apontando no horizonte. Vemos que a ideia de amor único e verdadeiro, de paixão avassaladora esta ficando cada vez mais fraca. Vimos que os homossexuais estão cada vez mais conquistando seus direitos (não só os homossexuais, mas, todos os que não são heterossexuais). Vimos surgindo um novo tipo de amor, o do relacionamento aberto, o que é livre e por isso pode amar mais de uma pessoa. As mulheres de hoje cada vez mais querem ter autonomia. Os homens de hoje tem se tornado mais sensíveis.



Claro que essas mudanças levam tempo e talvez ainda demore muito para todas as tendências se mostrarem com força, mas existe uma grande vantagem em nosso tempo. Sexo é questão pessoal e justamente por isso ele é específico para cada um de nós. Cada pessoa encara o sexo conforme seu ponto de vista. A quebra dos tabus e a abertura às escolhas sobre o sexo leva a liberdade individual. Não se trata de acabar com o casamento cristão, destruir o amor romântico, ou estabelecer os relacionamentos abertos como regra, trata-se, porém, de dar liberdade de escolha de vida a cada um. Quem determina que tipo de relacionamento sexual vai ter é você.






PS: Texto publicando anteriormente em:


http://www.publikador.com/cultura/rafaelarcanjo/2014/06/sexo-este-estranho-parte-ii/

Sexo, este estranho – Parte 1



Estamos acostumados a escultar frases a respeito da sexualidade do povo brasileiro e sobre como ele é “quente”. As mulheres são “fogosas” e tem os melhores atributos em forma de beleza, os homens são viris e tem “pegada”. Na linguagem popular ninguém nega que de vez em quando faz umas “sacanagens”, e que a esposa esperta deve fazer em casa o que o marido iria procurar nas “outras da rua”, por que como sabemos muitas vezes os maridos dão uma“pulada de cerca”. É somente no brasil que se pode encontrar aquela mulata que faz qualquer homem ficar “louco” e também é somente aqui que se encontras os “machos” capazes de fazer a mais santa das mulheres “perder o juízo”, e já que estamos falando de santidade é em nosso vocabulário presente a expressão “santo(a) do pau oco” –que nasce da época da escravidão graças ao contrabando de ouro, mas, hoje muitas vezes se refere as pessoas que apresentam ares de puritanismo e são considerados verdadeiros “devassos“. É curioso como em todas estas expressões são ditas e repetidas pelas gerações e como elas revelam não a nossa sexualidade mas pelo contrário a nossa dificuldade em lidar com este estranho, o sexo.


Resumidamente essas expressões populares mostra que:


1) Que ressaltamos atributos de sexualidade masculino e feminino, ou seja, não aceita outros padrões que fogem à regra como homossexuais, transexuais e etc.


2) Ressaltamos que a sexualidade pertence ao físico ,dentro do limite da carne, e claro isso a torna ruim e pecaminosa separada do santo e da alma.


3) Separamos antropologicamente dois ambientes o familiar e privado (casa) e o perigoso e público (rua) – neste caso as mulheres para poder segurar seus maridos devem usar o sexo, fazer igual se faz na rua.


4) Vemos também que para o brasileiro sexo e juízo estão separados assim como alma e corpo estão, por isso muitos “perdem a cabeça” por sexo.


O mais curioso é portanto a imaginação de que somos um povo liberal e sexual, que somos fogosos e não temos em nossas raízes o medo e o preconceito com relação ao sexo. Em qualquer lugar poderia-se imaginar que todos estes ditos populares seriam indicativos de uma grande repressão sexual, mas, no imaginário brasileiro ocorre o contrario, isso é prova, pelo menos para ele, de que somos um povo liberal. Isso levanta algumas perguntas:


1- Como pode as mais comuns e simples provas de repressão sexual serem usadas justamente como atestados do contrário?


2- Como pode passar despercebidos nas mentes destas pessoas o quanto somos uma sociedade reprimida sexualmente?


Para poder encontrar as respostas as estas perguntas deve-se ter em mente o conhecimento da operação da ideologia que foi construída desde a chegada dos portugueses ao Brasil. Algumas facetas de nossa cultura vem da situação de fundação do Brasil, a que se encontrava três culturas principais a negra, a indígena e os europeus, destacando neste caso os portugueses. Tanto os indígenas quanto os negros eram sexualmente liberais mas, com o genocídio cultural, sobrou para nós o padrão Português do sexo. E como seira a intimidade sexual dos portugueses? A resposta mais correta seria talvez: Sexo Católico Apostólico Romano.


O primeiro livro impresso em Portugal era um manual usado pelos padres durantes as seções de confissão. O nível de controle sexual apresentado nestes manuais revela que para os católicos da época sexo e Diabo eram quase a mesma coisa. Eva culpada por desencaminhar Adão havia sido amaldiçoada e o Diabo habitava seu corpo. Até mesmo nos cursos de medicina temia-se estudar o corpo da mulher pois bem e mal habitavam ali. O contato sexual deveria então ser evitado ao máximo sendo usado apenas para a procriação. Manuais sexuais da época do Brasil – colonia e depois imperial ensinavam como deveria ser o sexo católico: Sem toque em outras partes do corpo, de preferencia vestidos, sempre na posição papai e mamãe e apenas o básico para emissão de sêmen na “casa abençoada por Deus”.


É por isso que surgiu na imaginação popular um ideário que separa sexo de santo e casto. Também o machismo se apresenta com bastante força graças as ideias de que a mulher tem “o cão no corpo”.Paralelamente foi nos cabarés e nas páginas da revista Rio Nu que foi se criando uma identidade sexual marginal. Em casa dentro do matrimônio os homens não realizavam suas fantasias e por isso recorria as prostitutas. Começa neste ponto forma a imagem de que somos livres sexualmente mesmo que em nosso ambiente privado sejamos conservadores.


No próximo artigo será explanado mais sobre o tema chegaremos ao século XX e falaremos sobre as tendências para o século XXI.






PS: Texto publicado anteriormente em:


http://www.publikador.com/cultura/rafaelarcanjo/2014/06/sexo-este-estranho-parte-1/

Brasileiro – O Cordial Violento



Aprendemos que nossa terra é abençoada por Deus, abastarda pela mãe natureza, “terra adorada entre outras mil”, “de um povo heroico”, pacífico, cordial, amoroso e alegre. Aprendemos que temos muitos problemas, mas, isso é normal pois somos jovens, país novo em busca de sua soberania. Nos comovemos com o sofrimento e valorizamos as famílias. Não temos preconceitos, pois somos o país do samba, da mulata bonita e do carnaval.


Esse pensamento massificado tenta representar uma identidade una do povo brasileiro e parece realmente explicar a nossa natureza. É incrível que em uma sociedade tão pacífica a violência seja a principal causa de morte entre os jovens de 15 a 24 anos. Pode parecer contraditório que em um país onde a família é tão valorizada 4 em cada 10 mulheres já sofreram violência doméstica. Aqui, no Brasil, de todas as formas de agressões à mulher 68% vem de seus respectivos companheiros. E é em nosso país sem preconceitos que 70% das vítimas de assassinatos são negros. E na linguagem o adjetivo mulato(a), que vem da mesma raiz da palavra “mula” (animal hibrido, defeituoso e sem possibilidade de reprodução), se enraizou de forma a não se perceber seu verdadeiro significado.


O que acontece então que, mesmo diante de todos estes dados, encaramo-nos como cordeais e não violentos? A explicação vem da forma como lidamos com a violência. Quando chegaram nas costas americanas os portugueses acreditaram ter encontrado o paraíso perdido de “brass”. Dai vem a ideia de que a natureza aqui é mãe e de que o Brasil é de certa forma um pedacinho do paraíso. De lá para cá foram escritas poesias e textos que reafirmam a bondade do povo brasileiro. Textos que mostra nossa história “sem sangue”. Apagaram de nossa história os momentos de guerra e os massacres culturais.


Foram criados os nossos heróis e entre eles o mais destacado é Tira Dentes, ocultando o que realmente aconteceu em nossa história. Desta forma foi criando o que é chamado de identidade nacional ou mito fundador. Para preservar essa imagem, este simulacro, é feita a distinção entre o “eles” e o “nós”. “Eles” são todos os que estão a margem dessa ideia (imagem, aliás a raiz etimológica de ideia é o grego “eidos” – imagem). O “Nós” são todos os que se enquadram no “perfil” brasileiro. É por isso que a presidente Dilma pode ir ao palanque e dizer que os que a vaiaram em nada tem haver com o povo brasileiro, pois este é educado e civilizado, mesmo sabendo que todos que participaram da vaia são de nacionalidade brasileira.


Essa distinção entre o “eles” e o “nós” nos permite separar totalmente o “legítimo” brasileiro, “pacífico” e “cordial”, dos outros, os “marginais safados” e “estúpidos” que só atrapalham o “nosso” povo. Essa máscara serve para ocultar que na realidade a violência é algo que esta em nossas raízes. Não se trata de dizer que a violência é algo localizado, que atinge a poucos, que poucos são os violentos, que quando aumenta de trata de uma “epidemia” (como se fosse algo que surge do nada e que logo some) ou um surto dado graças a migrações (primeiro as do êxodo rural e depois a do nordeste e norte rumo ao sudeste). De fato a violência é uma característica do povo brasileiro. Ela é natural para nós e não nos espanta quando ela é praticada de forma indireta ou sutil. Aliás definição de violência no senso comum se limita apenas ao ataque a propriedade privada e ao físico.


A violência é no entanto, o ato de qualificar como coisa, diminuir e oprimir, qualquer ser humano. Ela pode ser praticada de diversas formas, incluindo a moral e verbal. Para podermos lutar contra a violência devemos abandonar nossos mitos e encarar a nossa verdadeira realidade . A luta inclui parar de ver o “deles” e focar o nosso, ou seja parar de separar eles e nós. Afinal somos mais violentos que cordiais!






PS: Texto publicado anteriormente em:


http://www.publikador.com/sem-categoria/rafaelarcanjo/2014/06/brasileiro-o-cordial-violento/

Na Casa e na Rua - Parte 2, Na Rua

Odores, sabores, medo e tensão. Rua não é casa, sempre devemos ficar atentos. Se a casa é o refúgio a rua é o tormento. Opositora da casa a rua representa perigo e degradação.

As ruas do Brasil colonial não eram um ambiente muito familiar, cheia de odores e excremento, humano e de animais. O lixo sempre foi uma constante nas ruas brasileiras. Isso tudo vem a reafirmar a visão que temos de casa e rua. Em casa nós cuidamos e limpamos, plantamos e deixamos vistosos nossos jardins, na rua as plantas morrem secas e é nela que nossos lixos se encontra.

Se em casa são as leis dos valores familiares que rege, na rua é a lei fria e dura do estado. Se na casa estamos dentro de uma hierarquia que nos coloca em um lugar, na rua somos todos iguais. A singularidade de nossa casa não pode ser encontrada na rua. Porém diferente de se tratar de um ambiente totalmente desvinculado ao da casa a rua vem como forma de completar o que falta na casa em forma de oposição à ela.

Foi no Rio de Janeiro do século 18 que os homens começaram a sair de suas casas em busca de prostitutas nas ruas, melhor dizendo nos bordeis. Estes bordeis porém não faziam parte da construção imaginária e cultural da casa e acabaram sendo classificado como rua. O mesmo aconteceu com a alimentação. Quem nunca ouviu falar que comida da rua é perigosa? Neste caso a "rua" se refere a restaurantes e lanchonetes, que mesmo não sendo uma via de transição não pode receber outro nome. Sem as ideias culturais do que é casa não há a percepção do que é rua.

Familiarizados com o privado e em grande dificuldade de lidar com o público materializamos isso na forma como lidamos com a rua e com a casa. É assim, somos brasileiros. Temos facilidade de sobrepor o privado sobre o público. Aliás rua esta para nós o mesmo que o diabo esta para Deus. Na cantiga dizemos "se esta rua fosse minha" pois a rua não é minha, ela é pública, mesmo que eu more nesta rua e eu não moro na rua. "Se fosse minha eu mandava ladrilhar" mas como não é minha dela não vou cuidar.